Quase nunca eu sei sobre o que vou escrever, dessa vez não será assim.
Comecei a refletir sobre o medo e outras coisas que o permeiam ou são permeadas por ele.
Ao contrário da maioria das minhas reflexões, que se encerram em si mesmas, fazendo-a somente para mim mesmo, essa reflexão é uma tentativa de externalizar algo que nunca entendi em mim, por isso o farei escrevendo.
Ao contrário da maioria das minhas reflexões, que se encerram em si mesmas, fazendo-a somente para mim mesmo, essa reflexão é uma tentativa de externalizar algo que nunca entendi em mim, por isso o farei escrevendo.
Como não sei muito bem os processos que ocorrem dentro do assunto que irei abordar, tentarei descobrir junto ao leitor, desculpe-me os rodeios e correções, entenda que não é um texto de estrutura planejada.
Comecemos então.
Comecemos então.
Aos que me conhecem (de longa data ou não, mas conseguiram me conhecer, independente do tempo que precisaram para consegui-lo), sabem que eu não preciso de muitas explicações para entender algo. Na verdade, na maioria das vezes eu não preciso de explicações nenhuma, ao menos, não de explicações verbais.
Baseado em alguns atributos como sensibilidade, percepção, memória, e agilidade de raciocínio lógico, eu costumo conceber as idéias sem a necessidade da externalização verbal da contraparte.
Poucas coisas me enganam, poucas vezes me decepcionei, poucas vezes julguei precipitadamente de forma incorreta. E acredito que a partir disso construí a minha segurança pessoal.
Baseado em alguns atributos como sensibilidade, percepção, memória, e agilidade de raciocínio lógico, eu costumo conceber as idéias sem a necessidade da externalização verbal da contraparte.
Poucas coisas me enganam, poucas vezes me decepcionei, poucas vezes julguei precipitadamente de forma incorreta. E acredito que a partir disso construí a minha segurança pessoal.
A segurança, é basicamente o domínio sobre o medo.
O medo é basicamente, aquilo que nos domina.
De uma forma mais científica e menos filosófica, o medo seria aquilo que diz que estamos em perigo.
Com o decorrer da história, o medo foi se tornando mais um problema, ou até um distúrbio, do que de fato uma arma importantíssima para a sobrevivência (não que ainda não o seja, mas leve em consideração as proporções da comparação que o faço dentro da espaçadíssima cronologia).
Logo, o medo passa ser tudo aquilo que de algum modo nos faz nos sentir ameaçados, e a ameaça vem pelo fato de não conseguirmos controlar tal situação, logo, o medo é a falta de domínio sobre as coisas que conhecemos, bem como o desconhecimento das coisas, tudo isso aliado ao nosso pessimismo intrínseco (não conhecemos, então esperamos o pior, e isso nos causa medo).
Um exemplo rápido e simples, primeiro dia de aula em uma nova escola:
Esperamos que todos não gostem de nós, que iremos tropeçar na frente de todos e cair, fazer xixi nas calças, ser humilhado, gaguejar Pre-pre-pre-sen-te.
Logo, o medo passa ser tudo aquilo que de algum modo nos faz nos sentir ameaçados, e a ameaça vem pelo fato de não conseguirmos controlar tal situação, logo, o medo é a falta de domínio sobre as coisas que conhecemos, bem como o desconhecimento das coisas, tudo isso aliado ao nosso pessimismo intrínseco (não conhecemos, então esperamos o pior, e isso nos causa medo).
Um exemplo rápido e simples, primeiro dia de aula em uma nova escola:
Esperamos que todos não gostem de nós, que iremos tropeçar na frente de todos e cair, fazer xixi nas calças, ser humilhado, gaguejar Pre-pre-pre-sen-te.
Metade destas coisas realmente acontecem, mas não por outro motivo que não o fato de ter havido se preparado para que elas acontecessem.
Logo, o medo do que não conhecemos, as pessoas envolvidas, o colégio, as regras, os hábitos, nos cria uma situação de stress, e passamos a ser dominados pelo medo.
Outro exemplo rápido e um pouco mais complicado e mais sociológico:
A dominação medieval por meio da religião (ou melhor... tradição religiosa), onde a maior arma foi a criação de uma situação de ignorância comum por meio de uma língua desconhecida na maior parte da Europa (latim), tornando inacessível todas as fontes de conhecimento religioso à população, e tornando criminosa a curiosidade e a vontade de aprendizado acerca dos assuntos teológicos. Tal situação criou um estado de dominação (não pela religião como dizem alguns, - uma vez que o princípio da religião é o espiritual, o físico e o intelectual - mas sim pela ignorância) por cerca de 1400 anos.
A dominação medieval por meio da religião (ou melhor... tradição religiosa), onde a maior arma foi a criação de uma situação de ignorância comum por meio de uma língua desconhecida na maior parte da Europa (latim), tornando inacessível todas as fontes de conhecimento religioso à população, e tornando criminosa a curiosidade e a vontade de aprendizado acerca dos assuntos teológicos. Tal situação criou um estado de dominação (não pela religião como dizem alguns, - uma vez que o princípio da religião é o espiritual, o físico e o intelectual - mas sim pela ignorância) por cerca de 1400 anos.
De alguma forma milagrosa, eu que sempre fui uma criança inexperiente na maior parte das coisas, compreendi o medo muito cedo e a forma como ele age (não compreendê-lo seria burrice, medroso era a minha característica mais forte na infância, eu sempre estive bem perto do medo para entendê-lo).
Sabia que conhecer as coisas me tornaria imune ao medo, pois assim poderia prever as situações e saber o que esperar, e estar preparado para o que iria acontecer, logo o medo seria reduzido a uma ansiedade pequena devido ao suposto conhecimento das coisas futuras, ansiedade esta que é bastante saudável, nos dando concentração e energia para enfrentar cada situação de acordo com a seriedade desta.
Então acabei por desenvolver um truque muito interessante para dominar o medo social que me dominava.
Eu que nasci tímido por natureza, e ao mesmo tempo aventureiro por natureza, tinha no meu sangue uma mescla de desejos conflitantes... Queria conhecer as coisas, aproveitar os momentos, e o medo nunca me ajudou muito. Então sabia que se tinha as duas vontades, era só questão de fazer a melhor vontade prevalecer e tentar encontrar o equilíbrio entre as duas.
Percebi que meu medo estava muito relacionado à impressão de outros olhos, o tímido não é só tímido, é uma pessoa sensível e perceptiva, basta um olhar diferente, e ele está magoado e pensando que a raiz das coisas ruins no mundo é sua responsabilidade. O tímido tem medo de ser notado, porque é vaidoso, é orgulhoso, não quer que notem algo ruim nele, não quer ouvir defeitos seus, e isso porque percebeu os defeitos que tem. Mas timidez também é um pouco de egocentrismo, ele enxerga os próprios defeitos, e não percebe que todos ao redor também possuem defeitos, e que os deles não incomodam os outros mais do que os defeitos de qualquer outra pessoa.
Baseado nessas considerações eu comecei a pensar sempre antes de fazer algo: Felipe, o que você, estando do lado de fora, diria, pensaria e acharia?
Aí vai da tua criticidade contigo mesmo. Mas em geral, eu pensava: Se fulano fizesse isso, o que você, Felipe, pensaria?
E via que era algo totalmente normal, que se estabacar no chão era só algo engraçado, e não humilhante, como pensava antes.
Que mijar nas calças, só significava que alguém bebeu água demais e que a professora não deixou você sair da aula porque era a aula antes do recreio (meu colégio era meio militar nas primeiras séries, acredito que era o respingar da recente queda da ditadura).
E comecei a ter menos medo das coisas e a ser mais tolerante com os outros, e principalmente, comigo mesmo.
As primeiras decepções é quando você entende que as pessoas vão achar ruim, não importa o que você faça, e que elas não pensam como você, que preferem criticar os outros para se sentir melhor consigo mesmas (o caminho inverso do tímido, que se critica porque não se sente digno do meio em que vive).
Então, diante desta prática de percepção exterior de si mesmo, a gente aprende a entender mais da nossa cabeça, das características da personalidade, e começa a adquirir a prática, em pequena escala de leitura de pensamentos.
Eu comecei a entender mais sobre isso depois de ler diversos livros da série de Connan Doyle. A forma como ele estrutura o pensamento instintivo (a segmentação da perspicácia), mexeu muito comigo a partir do início da minha adolescência.
Comecei a entender aquelas impressões sem sentido que temos e a racionalizá-las.
E desde então a gente começa a entender sinais claros. Isso, em tese, funcionaria com poucas pessoas, pessoas dentro da forma, o que eu chamo de pessoas standard. Feitas ao molde geral.
Em tese essa deveria ser a minoria, mas devido aos acontecimentos da história e da dominação do pensamento imperialista (e não me refiro a um império geográfico ou político) sobre os meios de conhecimento, o padrão se tornou maioria absoluta. Com isso, o pensar diferente (na fase adulta) se tornou uma arma absoluta para a imunidade sobre a dominação - uma coisa que qualquer criança recebe de nascença.
A partir do estudo desses padrões, você começa a compreender como as pessoas funcionam, independente de sua cultura, situação social, são humanos agindo como humanos.
A partir deste conhecimento, construí minha segurança, sabia o que esperar, como agir, o que dizer, o que fazer, e a vida social virou uma espécie de jogo de xadrez com oponentes muito fracos.
O problema é que confiar na perspicácia, sensibilidade e percepção para se auto-afirmar como pessoa, é loucura, mais cedo ou mais tarde apareceriam exceções, o que confirmariam a existência da regra que criei.
E apareceram. E cada exceção é fantástica, me tornei absurdamente próximo de todas as que encontrei, e aos poucos fui entendendo mais sobre o que seria de fato ser diferente.
E percebi que toda vez que me deparo com uma exceção, uma parte de mim quer se aproximar para aprender, e para compartilhar do fato de ser exceção (é um fator de atração), mas me deparo com o meu medo infantil de não saber o que esperar, e que meu pensamento acerca do padrão não é suficiente para saber como agir. Percebi que retornei ao meu estado infantil. Sendo dominado por aquilo que não conheço.
E foi nesse duelo entre o desejo de conhecer o desconhecido com o medo do que posso encontrar, que comecei a me conhecer de fato. Percebi que conhecer os outros era fácil, difícil era me entender e saber como funciono.
Descobri que o medo não era dos outros, o medo era de mim mesmo. Não sei do que sou capaz em determinadas situações, não sei como vou reagir diante de certas coisas.
Ainda não me conheço.
E mais uma vez retorno aqui para dizer algo que achei ter entendido e vejo agora que não sei na prática o que significa:
"Genói hoios essí / Torna-te aquilo que tu és."
De que adianta ler pensamentos, se não sei de fato o que se passa dentro da minha cabeça.
Logo entendi que o tímido tem medo dos outros, porque espera encontrar no outro aquilo que encontra em si... Medo.
E não é medo infundado.
Sobra aqui, falta ali. E está evidente para mim que - ao contrário do que pensava - o que me falta está muito além de não conseguir amarrar o cadarço na primeira tentativa. Percebi que é algo muito mais complexo. Seria fácil estar no grupo seleto de gênios da pós-modernidade se o preço fosse ter uma dificuldade incomum em amarrar os cadarços do meu tênis...
Meu medo é que eu não saiba amarrar os cadarços daqui de dentro.
Como é bom encontrar pessoas que nos intimidam por serem diferentes, melhor ainda quando se tem a consciência de que o mesmo ocorre na contraparte.
E foi percebendo que outros me temem como eu os temi, que enxerguei que não há o que temer além de mim mesmo.
"No amor não há medo, mas o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo envolve castigo; e aquele que tem medo, não é perfeito no amor." 1 João 4:18
Sabia que conhecer as coisas me tornaria imune ao medo, pois assim poderia prever as situações e saber o que esperar, e estar preparado para o que iria acontecer, logo o medo seria reduzido a uma ansiedade pequena devido ao suposto conhecimento das coisas futuras, ansiedade esta que é bastante saudável, nos dando concentração e energia para enfrentar cada situação de acordo com a seriedade desta.
Então acabei por desenvolver um truque muito interessante para dominar o medo social que me dominava.
Eu que nasci tímido por natureza, e ao mesmo tempo aventureiro por natureza, tinha no meu sangue uma mescla de desejos conflitantes... Queria conhecer as coisas, aproveitar os momentos, e o medo nunca me ajudou muito. Então sabia que se tinha as duas vontades, era só questão de fazer a melhor vontade prevalecer e tentar encontrar o equilíbrio entre as duas.
Percebi que meu medo estava muito relacionado à impressão de outros olhos, o tímido não é só tímido, é uma pessoa sensível e perceptiva, basta um olhar diferente, e ele está magoado e pensando que a raiz das coisas ruins no mundo é sua responsabilidade. O tímido tem medo de ser notado, porque é vaidoso, é orgulhoso, não quer que notem algo ruim nele, não quer ouvir defeitos seus, e isso porque percebeu os defeitos que tem. Mas timidez também é um pouco de egocentrismo, ele enxerga os próprios defeitos, e não percebe que todos ao redor também possuem defeitos, e que os deles não incomodam os outros mais do que os defeitos de qualquer outra pessoa.
Baseado nessas considerações eu comecei a pensar sempre antes de fazer algo: Felipe, o que você, estando do lado de fora, diria, pensaria e acharia?
Aí vai da tua criticidade contigo mesmo. Mas em geral, eu pensava: Se fulano fizesse isso, o que você, Felipe, pensaria?
E via que era algo totalmente normal, que se estabacar no chão era só algo engraçado, e não humilhante, como pensava antes.
Que mijar nas calças, só significava que alguém bebeu água demais e que a professora não deixou você sair da aula porque era a aula antes do recreio (meu colégio era meio militar nas primeiras séries, acredito que era o respingar da recente queda da ditadura).
E comecei a ter menos medo das coisas e a ser mais tolerante com os outros, e principalmente, comigo mesmo.
As primeiras decepções é quando você entende que as pessoas vão achar ruim, não importa o que você faça, e que elas não pensam como você, que preferem criticar os outros para se sentir melhor consigo mesmas (o caminho inverso do tímido, que se critica porque não se sente digno do meio em que vive).
Então, diante desta prática de percepção exterior de si mesmo, a gente aprende a entender mais da nossa cabeça, das características da personalidade, e começa a adquirir a prática, em pequena escala de leitura de pensamentos.
Eu comecei a entender mais sobre isso depois de ler diversos livros da série de Connan Doyle. A forma como ele estrutura o pensamento instintivo (a segmentação da perspicácia), mexeu muito comigo a partir do início da minha adolescência.
Comecei a entender aquelas impressões sem sentido que temos e a racionalizá-las.
E desde então a gente começa a entender sinais claros. Isso, em tese, funcionaria com poucas pessoas, pessoas dentro da forma, o que eu chamo de pessoas standard. Feitas ao molde geral.
Em tese essa deveria ser a minoria, mas devido aos acontecimentos da história e da dominação do pensamento imperialista (e não me refiro a um império geográfico ou político) sobre os meios de conhecimento, o padrão se tornou maioria absoluta. Com isso, o pensar diferente (na fase adulta) se tornou uma arma absoluta para a imunidade sobre a dominação - uma coisa que qualquer criança recebe de nascença.
A partir do estudo desses padrões, você começa a compreender como as pessoas funcionam, independente de sua cultura, situação social, são humanos agindo como humanos.
A partir deste conhecimento, construí minha segurança, sabia o que esperar, como agir, o que dizer, o que fazer, e a vida social virou uma espécie de jogo de xadrez com oponentes muito fracos.
O problema é que confiar na perspicácia, sensibilidade e percepção para se auto-afirmar como pessoa, é loucura, mais cedo ou mais tarde apareceriam exceções, o que confirmariam a existência da regra que criei.
E apareceram. E cada exceção é fantástica, me tornei absurdamente próximo de todas as que encontrei, e aos poucos fui entendendo mais sobre o que seria de fato ser diferente.
E percebi que toda vez que me deparo com uma exceção, uma parte de mim quer se aproximar para aprender, e para compartilhar do fato de ser exceção (é um fator de atração), mas me deparo com o meu medo infantil de não saber o que esperar, e que meu pensamento acerca do padrão não é suficiente para saber como agir. Percebi que retornei ao meu estado infantil. Sendo dominado por aquilo que não conheço.
E foi nesse duelo entre o desejo de conhecer o desconhecido com o medo do que posso encontrar, que comecei a me conhecer de fato. Percebi que conhecer os outros era fácil, difícil era me entender e saber como funciono.
Descobri que o medo não era dos outros, o medo era de mim mesmo. Não sei do que sou capaz em determinadas situações, não sei como vou reagir diante de certas coisas.
Ainda não me conheço.
E mais uma vez retorno aqui para dizer algo que achei ter entendido e vejo agora que não sei na prática o que significa:
"Genói hoios essí / Torna-te aquilo que tu és."
De que adianta ler pensamentos, se não sei de fato o que se passa dentro da minha cabeça.
Logo entendi que o tímido tem medo dos outros, porque espera encontrar no outro aquilo que encontra em si... Medo.
E não é medo infundado.
Sobra aqui, falta ali. E está evidente para mim que - ao contrário do que pensava - o que me falta está muito além de não conseguir amarrar o cadarço na primeira tentativa. Percebi que é algo muito mais complexo. Seria fácil estar no grupo seleto de gênios da pós-modernidade se o preço fosse ter uma dificuldade incomum em amarrar os cadarços do meu tênis...
Meu medo é que eu não saiba amarrar os cadarços daqui de dentro.
Como é bom encontrar pessoas que nos intimidam por serem diferentes, melhor ainda quando se tem a consciência de que o mesmo ocorre na contraparte.
E foi percebendo que outros me temem como eu os temi, que enxerguei que não há o que temer além de mim mesmo.
"No amor não há medo, mas o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo envolve castigo; e aquele que tem medo, não é perfeito no amor." 1 João 4:18
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